Os opostos se atraem

Esse é meu pai. A grande resistência da minha vida. Pois é... ele é eleitor do bolsonaro, é da direita, é leonino, é tudo o que diz respeito a ser meu oposto.
Conforme fui crescendo, fui disputando espaço com ele na nossa família. O que ele diz eu rebato. O que eu falo, ele rebate. A gente tem brigas homéricas. Brigas que me deixam com remorso de tanta merda que acabamos falando um para o outro.
Essa é a vida real, infelizmente. Não queria que fosse assim, mas é. Claro que tem momentos de paz, de conversa, de risada, mas se contar a quantidade desses momentos leves, são bem menores em comparação as nossas brigas.

Ano passado quase perdi meu pai. Uma das coisas mais duras que vivi na vida, foi deixar ele no hospital, pegar as roupas dele em um saco e ir embora sem ele. Nesse tempo hospitalizado, fiz uma playlist pra ele ouvir. Era a trilha sonora do filme "O amor não tira férias" do Hanz Zimmer. Todo dia escrevia uma carta pra ele, pedindo perdão e tentando consolá-lo. Era pandemia e não podíamos entrar. Só as vezes que meu lado rebelde saia e entrava escondido. Meu pai gerou esse lado rebelde em mim. E hoje entendo que algumas vezes ele é necessário. A vida é dura, a gente precisa enfrentar.

Meu pai já trabalhou na Febem, já enfrentou rebelião, já teve uma arma apontada em sua cabeça, já foi ameaçado de morte, mas sabe o que derruba ele? Um carinho na careca, uma conversa, um: "Pai, me desculpa, eu te amo" Ele vira pra mim e fala: "Me desculpa também filha, eu te amo".
Como eu tive medo de não ter mais essa oportunidade.

Hoje ele está bem e continuamos brigando. Muito! 
Não sei muito porque as coisas são assim. Só sei que nesse mundo, de acordo com a terceira lei de Newton, para todas as forças de ação, surgem forças de reação com intensidades iguais, mas sentidos opostos. E os opostos se atraem. 

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