Conhecimento X Sabedoria
“Os eruditos que hoje em dia fazem pouco
mais que comer livros, acabam por perder totalmente a capacidade de pensar por
si mesmos... Gastam todas as suas energias dizendo sim e não, na crítica
daquilo que outros pensaram – eles mesmos não pensam mais”. (Nietzsche
- Assim Falava Zaratustra).
Rubem Alves é um escritor
que admiro muito. Não me recordo muito bem como descobri seus textos...
acho que foi através de uma de suas colunas na revista Psiquê. Enfim... Com o tempo,
percebi que ele gostava de escrever sobre ostras, cigarras, loja de brinquedos,
velhice, Minas Gerais (sua terra natal), brincadeiras de criança. Por trás destas analogias aparentemente simples, encontramos profundas mensagens que carregam grande
sabedoria. São poderosas metáforas que tocam a nossa alma.
Pedagogo, Psicanalista, Poeta, Cronista, Contador de estórias, Ensaísta,
Teólogo, Escritor, Membro da Academia Campinense de Letras e Professor emérito
da Unicamp, Rubem Alves possui um extenso currículo. Foi então
que um dia me perguntei: como uma pessoa com tamanho conhecimento gosta de
escrever sobre coisas tão simples? Ele mesmo responde:
“Muitos anos atrás, no mesmo momento em que desaprendi a linguagem dos
saberes, eu fiz uma promessa. Todos os livros que viesse a escrever no futuro
teriam o nome de “Conversas...” Eu desejava precisamente isso: que eles não
fossem mais que “conversas...”. Conversa-se pelo prazer de conversar, o jogo
das palavras, a brincadeira com as imagens. Sim, é claro que pensamentos vão
sendo comunicados – mas o que caracteriza a conversa não é a comunicação de um
conteúdo de informação, mas o jogo” (Variações sobre o prazer, 2011, p.
28).
Logo que li isso, minha mente se voltou para Jesus que, conhecendo os segredos do céus e da terra, gostava de falar parábolas sobre fermento, figueira, trigo,
pérola, remendo em pano novo, vinho, semeador, semente, etc. Cristo disse: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste
estas coisas aos entendidos, e as revelaste aos pequeninos”. (Mateus 11:25,26).
No mundo dos eruditos encontramos um vasto campo de conhecimento,
informações, descobertas que nos dão poder de agir e tranformar o mundo, que são indispensáveis. Entretanto, ao lado de toda essa carga, andam egos inchados, acadêmicos orgulhosos, versados, desvanecidos, altivos. Com palavras rebuscadas, presença
dura, espírito imutável, para Rubem Alves, eles estão longe de serem sábios.
Sócrates nos ensina muito bem que quando
admitimos a nossa ignorância, abrimos a porta da sabedoria. É no reconhecimento dos nossos limites que está a base de toda a sapiência. Os eruditos não parecem compreender isso.
É possível ter muita instrução e ainda assim estar
longe de ser sábio. Conhecimento é letra. Sabedoria é a
melodia que faz nossa alma dançar, brincar e acordar os pensamentos e as lembranças adormecidas. É o dom de
discernir os caminhos da vida em nossas navegações por mares
desconhecidos. Sabedoria está além das palavras, ela vem do corpo, da alma. É gestada no silêncio, nasce fazendo barulho e caminha tecendo mudanças. E
como Jesus disse, não são os entendidos que as possui e sim, os pequeninos despojados de toda nobreza desse mundo. São velhos, crianças, sonhadores despretensiosos. São sábios!