SOBRE TER 30 ANOS

Uma vez li que as bananeiras necessitam de um corte em seu caule pois de dentro do cepo velho, nasce um broto que gera outra bananeira. Fazer aniversário é semelhante a esse processo. Uma nova vida que nasce da vida velha.

Metamorfoses acontecem de repente e nos fazem ver o mundo de uma forma diferente. Eu mudei, mas há ainda muito que transformar. Alguns dizem que chegar aos 30 é um rito de iniciação da completude, outros mencionam crise existencial, para Clarice Lipesctor é cair em área sagrada, eu porém escolhi as palavras do poeta Bachelard que melhor definem minha sensação de chegar aos 30:

“Tudo em volta de mim é repouso, é tranquilidade; meu ser só, meu ser que procura o ser... Mas será que ainda há tempo para mim?”

Realmente há algo de diferente nesta etapa da vida que se resume em desafios e liberdade. Confesso que não aguardei ansiosamente por esta data, mas como diz Caetano, o Tempo é Senhor do Destino, tambor de todos os ritmos e navegar é preciso complementando com Pessoa.

Uma coisa que a idade proporciona é a coragem de pensar os próprios pensamentos, dizer o que se sabe e ouvir o que ainda não sabemos. Claro que isso ocorre em partes e até Nietzsche considera que “mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para dizer aquilo que ele realmente conhece”. Contudo, tenho percebido que em algumas situações as palavras pulam de minha boca e geralmente são aquelas que por tanto tempo guardei.

Quando se chega aos trinta, acredito que as mudanças são mais psicológicas do que físicas. Hoje me sinto mais mulher, mais feminina, mais sábia, mais adulta. Estou caminhando ainda... A idade vai abrindo nossos olhos para perceber o que é essencial, descortinando o véu da artificialidade. Agora é coisa séria! Até os 29 anos havia uma estranheza do ser que vai se descobrindo no tempo. Então, uma nova dimensão se abre com crises, responsabilidades, objetivos e sonhos.

Talvez os 30 anos seja a idade da Poesia. Não há uma definição, apenas é necessário ter asas para voar. A vida pulsa e a contagem do tempo é inevitável. Fazer aniversário pode marcar aquilo que se foi, que não se constituiu assim como nos aponta para os sonhos que se tem no coração. Como já escrevi aqui, o tempo constrói nossa subjetividade. Somos seres no tempo diz a psicanalista Lea Waidergon. Ele cura, reconcilia, educa, fortalece e pode eternizar. É preciso viver com naturalidade, poder sentir prazer, usufruir do momento que se vive e o que importa no aniversário é a renovação dos seus sonhos, principalmente a renovação do pacto de amor com você mesmo.