Arte Culinária
Agora que estou de férias, livre das obrigações oficiais
(como bem disse Magister Ludi em O jogo das contas de vidro), resolvi
aproveitar esse tempo precioso para retomar um prazer esquecido: escrever. Nada
complexo ou acadêmico. Algo para os amigos e que toque o coração.
A inspiração vem de outro prazer em minha vida: Cozinhar!
Amo assistir programas de culinária e ver a transformação
que os alimentos passam nas mãos carinhosas de uma cozinheira que entende a
magia de elaborar sabores doces, salgados ou os dois juntos.
Na literatura há várias analogias entre a vida e os alimentos. Santo
Agostinho por exemplo, disse: "Sem dúvida a memória é como se fosse o
estômago da mente, e a alegria e a tristeza são como comida doce e comida
amarga". Nietzsche comparou seus ensinos a figos: "Assim como figos
esses ensinamentos caem sobre vocês, meus amigos. Agora consumam seu suco e a
sua carne doce". Rubem Alves em seu livro Variações sobre o prazer, escreveu
que a palavra sápio em latim quer dizer "eu saboreio". Sapiência é isso,
saborear, sentir, cheirar, provar. Essa é a sabedoria do corpo, da vida, da
alma.
Cozinhar é antes de tudo uma atitude de amor, uma
experiência de prazer, beleza e generosidade. Quem cozinha sonha em satisfazer
através dos sabores, os desejos de seus convidados. A comida preparada se
submete a prova do corpo que dará sua sentença. Quem cozinha sabe as regras e a
sabedoria do corpo e que não encontramos nos livros. Exceto nos livros de
receitas das vovós, especialistas na cozinha afetiva, da alma.
A cozinha é o laboratório da vida. Aprendemos química, física, psicologia, aprendemos amar, compartilhar e multiplicar. Cinco pães e dois peixes,
Cristo fez quadruplicar! Essa é a magia.
Os olhos de um cozinheiro (a) são iguais aos do poeta. Sua
fantasia cria uma coreografia culinária, uma festa de gostos, cheiros, cores,
sensações, uma alquimia em que sonhos se transformam em comida.
Essa é a arte culinária! Transformar sabores sonhados em sabores reais.
Comentários
Postar um comentário