O Poder das Palavras
Existem algumas
histórias tão boas que não importa se são verdadeiras ou não. E é uma dessas
histórias que gostaria de deixar aqui hoje para ilustrar o título da
postagem e refletir sobre a importância das palavras.
Essa semana li
um artigo da revista Mente & Cérebro, escrito por Nelson da Silva Junior
que contava uma história muito interessante de Freud. Segundo o artigo, Nelson
a ouviu de um amigo que tinha ouvido a história de uma velha senhora que teria
conhecido Freud quando tinha 15 anos, época em que acompanhava sua tia a uma
consulta com o famoso médico vienense. Tal evento, pelos cálculos de Nelson,
ocorreu entre 1920 e 1925.
Então, vamos à
história!
"Meu amigo assinava o contrato de aluguel de um apartamento em São Paulo quando
conheceu a senhora em
questão. Ao saber que ele era analista em formação, ela se
apressou em dizer que era psicóloga, tinha estudado com o psicólogo e
epistemológico suíço Jean Piaget (1896-1980) e havia conhecido Freud.
Segundo contou, sua tia era uma
mulher muito bonita, de uns 30 anos, que já tinha procurado vários médicos
devido a dores cuja causa nenhum deles havia encontrado. Com relutância, marcou
uma consulta com dr. Freud, controverso especialista em doenças nervosas de
Viena. Ao encontrar o psicanalista, declarou com impertinência sua falta de
confiança na psicanálise. “Se é verdade que o senhor trata só com as palavras,
isso será inútil. Não acredito que meras palavras tenham poder sobre minhas
dores do corpo”.
O experiente médico teria se mantido
imperturbável. Perguntou sobre o que a trazia ali, quando suas dores tinham
começado, onde eram, se e quando mudavam de intensidade, quais tratamentos
tinha tentado, se tinha outros incômodos e também sobre sua vida em geral. Quando
pareceu satisfeito, iniciou um discurso um pouco surpreendente para ambas:
“Vejo que a senhora, apesar dos
males que a afligem, é de rara beleza. Isso não deve ter lhe escapado, uma vez
que, imagino eu, não devem ser poucas as expressões de admiração e as
conseqüentes investidas dos cavalheiros de nossa cidade. Sua pele é de uma textura
extremamente delicada e saudável”. Nisso se levantou, pegou um espelho que
mantinha pendurado no ferrolho da janela e o aproximou da dama, oferecendo a
imagem da qual falava à jovem senhora, visivelmente lisongeada. “Observe!
Trata-se mesmo de uma beleza pouco comum, algo oriental, com grandes olhos
negros e ligeiramente oblíquos... on
dirait La beauté d’une déesse égypetienne”, disse em francês elegante.
Completou o elogio com uma espécie de apoteose ao momento sublime que aquele
rosto capturava. “Observe, minha senhora, e não se esqueça jamais desse
momento. Ele é a própria imagem do ápice da beleza feminina encarnada em um
rosto simplesmente perfeito!”
Nisso, com efeito, a expressão da
jovem havia se transformado. Seus olhos brilhavam, seu rubor saudável indicava
uma felicidade vivaz e satisfeita. Ela estava simplesmente exuberante e
delicada com o que via.
“Contudo, continuou com outro tom de
voz, “se examinarmos com cuidado, será possível notar que os primeiros sinais
de velhice já se anunciam sutilmente.” “Veja bem”, disse, aproximando o espelho
do olhar hesitante da jovem. “Um pequeno mais indisfarçável reticulado se
irradia dos cantos das pálpebras e dos lábios...” A angústia da moça ao
confirmar aquelas marcas as sulcava um pouco mais. Dr. Freud tinha experiência
em detectar os sinais mínimos de perturbação interior. Bastou que indicasse as
poucas irregularidades da pele para que as lágrimas brotassem dos olhos baços
da infeliz. “Talvez o que vê agora seja meramente fruto de sua aflição diante da
verdade: que nosso melhor tempo é como um só dia de sol antes de um longo
inverno de decadência contínua.”
Nisso, a jovem senhora já
contemplava outra imagem. Seu nariz e olhos, inchados com o choro, e a fronte,
avermelhada com a tensão, de fato pareciam confirmar a profecia do médico.
Foi então que seu tom de voz de novo
mudou e assumiu um ar benevolente e carinhoso. “A senhora se recorda do rosto
divino que viu há pouco nesse mesmo espelho?”. Ela acenou afirmativamente com a
cabeça, incapaz de falar. “Pois bem, minha senhora, ele se transformou na
imagem que vê agora apenas com o poder das palavras!”.
Li este artigo nesta revista até então desconhecida pra mim, aprendi muito com ele, e observo no meu dia a dia este "efeito" das palavras boas e más nas pessoas atingidas. Creio que esse "efeito" é mais forte nas pessoas com menor auto-estima, inseguras de sí mesmas. Parabéns pelo texto, que sirva de lição a todos que lerem.
ResponderExcluirA palavra tem um imenso poder, para transformar, derrubar, curar e por aí vai...
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