O Homem dos Ipês Amarelos


Acabo de receber a notícia do falecimento de Rubem Alves. Mas quem é Rubem Alves? "Rubem Alves é um homem que gosta de Ipês amarelos... Como as crianças são sábias. Esse menino sabe que as pessoas são aquilo que elas amam".

Um dia estava lendo a revista Psique e na ultima página, encontrei uma coluna do Rubem Alves que falava sobre brincadeiras de criança e de cara me encantei pelas palavras. Com o tempo, percebi que ele gostava coisas simples sobre ostras, cigarras, velhice, loja de brinquedos, Minas Gerais... A questão é que por trás destas menções aparentemente simples, elas trazem grande sabedoria. São poderosas metáforas e aforismos que tocam as profundezas do ser.
Pedagogo, Psicanalista, Poeta, Cronista, Contador de estórias, Ensaísta, Teólogo, Escritor, Membro da Academia Campinense de Letras e Professor emérito da Unicamp, Rubem Alves possui um extenso e qualitativo currículo. Foi então que um dia me perguntei: como uma pessoa com tamanho conhecimento gosta de escrever sobre coisas tão simples? Ele mesmo respondeu em um de seus livros:
“Muitos anos atrás, no mesmo momento em que desaprendi a linguagem dos saberes, eu fiz uma promessa. Todos os livros que viesse a escrever no futuro teriam o nome de “Conversas...” Eu desejava precisamente isso: que eles não fossem mais que “conversas...”. Conversa-se pelo prazer de conversar, o jogo das palavras, a brincadeira com as imagens. Sim, é claro que pensamentos vão sendo comunicados – mas o que caracteriza a conversa não é a comunicação de um conteúdo de informação, mas o jogo” (Variações sobre o prazer, 2011, p. 28).

Suas conversas conectam o leitor a uma certa amizade, mesmo nunca o conhecendo pessoalmente. Dizia ele, reproduzindo Nietzsche que "De tudo o que se escreveu, eu só amo aquilo que o homem escreveu com o seu próprio sangue". Seu desejo era que seus livros fossem pedaços dele, tornando a leitura um metafórico ritual antropofágico.  

Poeta, ele escreveu a sabedoria que está além das palavras, aquela que vem do corpo, da alma. Suas palavras são doces em dias amargos, penetram os lugares mais escondidos da alma, são Ipês amarelos e serão eternas em nosso corações. 

Sobre a morte de Rubem Alves, finalizo esse post com o diálogo de Críton e Sócrates antes da execução do grande filósofo:

- Fuja depressa, Sócrates!
- Fugir, por quê? - perguntou Sócrates.
- Não esta sabendo que amanhã vão matá-lo?
- Matar-me? A mim? Ninguém pode matar-me!
- Sim, amanhã terá de beber a taça de cicuta - insistiu Críton. - Vamos, mestre, fuja depressa para escapar à morte!
- Meu caro amigo Críton - respondeu o condenado, - que mau filósofo você é! Pensar que um pouco de veneno possa dar cabo de mim...
Depois, puxando com os dedos a pele da mão, Sócrates perguntou:
- Críton, você acha que isto aqui é Sócrates? - E, batendo com o punho no crânio, acrescentou: - Acha que isto aqui é Sócrates?... Pois é isto que eles vão matar, este invólucro material; mas não a mim. Eu sou a minha alma. Ninguém pode matar Sócrates!


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